CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689. Capítulo I: As Sagradas escrituras. Exposição dos parágrafos II e III sobre a questão do Cânon.



Dizem os parágrafos II e III do Capítulo I da Confissão: “Sob o nome de Sagradas Escrituras ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho Testamento e Novo Testamento, que são os seguintes:
O VELHO TESTAMENTO:
Gênesis Êxodo Levítico Números Deuteronômio Josué Juizes Rute 1Samuel 2Samuel 1Reis 2Reis 1Crônicas 2Crônicas Esdras Neemias Ester Jó Salmos Provérbios Eclesiastes Cantares Isaías Jeremias Lamentações Ezequiel Daniel Oséias Joel Amós Obadias Jonas Miquéias Naum Habacuque Sofonias Ageu Zacarias Malaquias
O NOVO TESTAMENTO:
Mateus Marcos Lucas João Atos Romanos 1Coríntios 2Coríntios Gálatas Efésios Filipenses Colossenses 1Tessalonissenses 2Tessalonissenses 1Timóteo 2Timóteo Tito Filemom Hebreus Tiago 1Pedro 2Pedro 1João 2João 3João Judas Apocalipse

Todos os quais foram dados por inspiração de Deus, para serem a regra de fé e vida prática.

3. Os livros comumente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon ou compêndio das Escrituras. Portanto, nenhuma autoridade têm para a Igreja de Deus, e nem podem ser de modo algum aprovados ou utilizados, senão como quaisquer outros escritos humanos
.”

I – O CÂNON E SUA IMPORTÂNCIA:

Estes parágrafos da Confissão de Fé tratam de dois assuntos: O Cânon e Inspiração das Escrituras. Neste texto falaremos sobre o Cânon e no próximo sobre a questão da Inspiração. Devemos começar definindo o que queremos dizer quando falamos em um Cânon das Escrituras. A palavra “cânon” vem do grego e originalmente se referia a uma vara usada para alinhar alguma coisa. Em relação às Escrituras o termo é aplicado para definir quais os livros possuem condições de fazerem parte da Bíblia.
A importância deste assunto está ligada ao primeiro parágrafo da Confissão. Lembremos o início daquele parágrafo: “A Sagrada Escritura é a única regra suficiente, certa e infalível de conhecimento para a salvação, de fé e de obediência”. Dessa forma temos aprendido que por ela encontramos a Cristo o Salvador, como também achamos a orientação sobre como devemos viver a vida cristã. Mas afinal quais os livros que agrupados poderemos chamar de Sagrada Escritura? Aqui é que se encontra a importância da questão do Cânon. Assim a Confissão de Fé ao tratar sobre a Bíblia põem aqui estes parágrafos e define quais os livros que cremos constituírem a Sagrada Escritura. Queremos analisar este assunto pensando em três questões: Qual o papel da Igreja Cristã na determinação do Cânon? Quais os principais critérios para esta determinação? E ainda: O que dizer com relação aos apócrifos, que a propósito, são aceitos pelos católicos? Todas estas questões vão mostrar em grande parte as diferenças entre protestantes e católicos.

II – O PAPEL DA IGREJA:

Este assunto a Confissão trata mais adiante, porém é importante darmos uma palavra com relação a ele neste ponto por ter uma relação direta com a questão do Cânon. Assim devemos perguntar: Qual o papel da Igreja na determinação do Cânon? Nesta questão vai aparecer uma diferença crucial entre católicos e protestantes. Pois os católicos vêem a Igreja como capaz de designar o Cânon, enquanto que os protestantes entendem que a Igreja tão somente reconhece o Cânon. Quem designa, quem determina o Cânon é Deus. A Igreja tão somente se dobra diante das evidências que os próprios livros possuem. Quem coloca tais evidências é Deus, e a Igreja por possuir o Espírito Santo, por este mesmo Espírito foi levada a reconhecer estas evidências.

III – DUAS IMPORTANTES EVIDÊNCIAS DE QUE UM LIVRO É CANÔNICO:

Alistemos agora duas importantes evidências que levaram os cristãos a reconhecerem estes livros como canônicos:
A – Que tenha sido escrito por um profeta ou apóstolo, ou que o escritor tenha sido influenciado por um deles. Este critério era importantíssimo visto que os apóstolos e profetas foram homens que proclamaram a Palavra de Deus. Dessa forma a autoridade delas era passada para os seus escritos. Sobre isto diz Paulo Anglada: “Fosse possível provar que um determinado livro era de origem apostólica, isso seria suficiente para ser reconhecido como canônico. Por outro lado, havendo dúvida quanto a origem apostólica fatalmente haveria relutância, como realmente houve, na aceitação da canonicidade de um livro” (Sola Scriptura – A Doutrina Reformada das Escrituras, página 44).
B – Conteúdo doutrinário: Os livros precisavam seguir o padrão doutrinário dos apóstolos. Neste ponto é ilustrativa a citação feita por Grudem do Evangelho de Tomé. Vejamos “O Evangelho de Tomé que por um tempo foi considerado canônico por alguns, termina com a seguinte declaração absurda: ‘Simão Pedro disse a eles: Que Maria se afastasse de nós, pois as mulheres não merecem viver, Jesus disse: Ó conduzi-la-ei, para que possa torná-la homem, para que ela também possa tornar-se espírito vivente, a semelhança de vós, homens. Pois toda a mulher que se fizer homem entrará no Reino dos Céus.” (Teologia Sistemática de Wayne Grudem, página 39). Ora, tais livros não poderiam entrar no cânon, pois negam frontalmente os ensinos de Cristo e apóstolos.

IV – A QUESTÃO DOS APÓCRIFOS:

A Confissão alista os livros que cremos serem canônicos. Ela também aponta os chamados apócrifos como livros sem autoridade para pertencerem ao cânon. Estes não são considerados inspirados. Aqui aparecem mais uma vez a divergência entre protestantes e católicos, pois os católicos aceitam parte destes livros no Antigo Testamento. Então devemos perguntar: Por que protestantes em geral e os Batistas em particular não aceitam estes livros? Tradicionalmente os protestantes têm apresentado os seguintes argumentos como prova que estes livros não devem participar do Cânon:
A – Os apócrifos não aparecem no Cânon Judaico. Tal critério é importante, pois dos judeus vieram as Escrituras. Este Cânon se dividia em três partes: Lei, os Profetas e os Escritos. Estavam nesta ordem:
Lei (5): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio.
Profetas (8):
Anteriores (4): Josué, Juízes, I - II Samuel, I - II Reis.
Posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Os Doze: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.
Escritos (11): Verdade (3): Salmos, Provérbios, Jó, Rolos (5): Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras-Neemias, I - II Crônicas. (Seguindo de perto a LaSor, Hubbard e Bush em Introdução ao Antigo Testamento. Página 658). Vemos que corresponde ao Cânon protestante favorecendo a este.
B – Jesus apoiou o Cânon Judaico. Vemos isto em dois textos:
A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. (Lc 24:44).
Aqui Jesus cita as três divisões do Cânon judaico: Lei: Lei de Moisés; Profetas; e Escritos: Salmos, que também era uma designação dos Escritos. Assim Jesus apóia o Cânon Judaico.
Veja também este outro texto:
Desde o sangue de Abel até ao de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e a casa de Deus. Sim, eu vos afirmo, contas serão pedidas a esta geração. (Lc 11:51). Aqui Jesus fala em Abel que está no primeiro livro do Cânon Judaico, ou seja Gênesis, aparecendo no capitulo 2, e de Zacarias que aparece em II Crônicas 24:20, que é o ultimo livro deste Cânon. Assim Jesus o autentica totalmente.
Concluímos que Jesus deu pleno apoio ao Cânon Judaico e este não incluía os apócrifos.
C – Nem Jesus nem os apóstolos citam os apócrifos que os católicos acrescentaram. Eles citam várias partes dos livros do cânon judaico e protestante como contendo autoridade, mas nenhuma vez citam os apócrifos católicos.
D – Existem testemunhas antigas que apóiam o Cânon Judaico, ou mesmo valorizando os apócrifos não os consideram como canônicos. Em casos como estes estão: Josefo, historiador judaico, Mileto, Orígenes, Tertuliano e Jerônimo, Atanásio, Cirilo de Jerusalém, Gregório de Nazianzo e Epifânio. (Paulo Anglada, em Sola Scriptura, página 36; Franklin Ferreira e Alan Myatt, em Teologia Sistemática, página 131). Assim os apócrifos sempre sofreram alguma oposição, sendo reconhecidos oficialmente pela Igreja Católica apenas no Século XVI no Concílio de Trento. Diante de tais fatos o Protestantismo argumenta que os Apócrifos não devem ser aceitos.
E – Os apócrifos favorecem doutrinas anti-bíblicas: Cito, por exemplo, o fato de levarem ao ensino da justificação pela fé com obras. Sobre isto diz Grudem: “os livros apócrifos contêm apoio para o ensino católico de oração pelos mortos e de justificação pela fé com obras, não pela fé somente”.

V – CONCLUSÃO:

A Confissão de Fé Batista de 1689 segue nesta questão do Cânon o que tem sido defendido pelas Igrejas oriundas da Reforma Protestante. As evidências demonstram que tal posição é a correta, ou seja, que nossa confissão é correta. Os livros que a Confissão alista são de fato canônicos, e os rejeitados, ou seja, os apócrifos devem de fato estar fora das Escrituras Sagradas, pois não mostram qualificações para tal. Não são inspirados!
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