Exposição do Evangelho de João: A purificação do Antigo Templo e o anúncio do Novo.

Estando próxima a Páscoa dos judeus, subiu Jesus para Jerusalém. E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados; tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio. Lembraram-se os seus discípulos de que está escrito: O zelo da tua casa me consumirá. Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Que sinal nos mostras, para fazeres estas coisas? Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei. Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás? Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo. Quando, pois, Jesus ressuscitou dentre os mortos, lembraram-se os seus discípulos de que ele dissera isto; e creram na Escritura e na palavra de Jesus. (Jo 2:13-22).

I – INTRODUÇÃO:

Ao seguirmos o pensamento de João, observamos que ele segue fielmente o seu propósito que deixa claro no capítulo vinte, versos trinta e trinta e um: Apresentar a Cristo. Assim ele avança mostrando agora o início do ministério público do Senhor, o que ocorre durante a festa da Páscoa. Aqui vemos o Senhor purificando o Templo, que é mais uma prova de quem Ele é, como também anunciando o Novo Templo: O seu próprio corpo.

II- A PURIFICAÇÃO DO TEMPLO (Jo 2:13-17):

A Páscoa era uma ocasião muito importante para os judeus. Era a comemoração da Libertação do Egito. Seguida a esta, vinha a festa dos pães Asmos. Ambas as festas eram as vezes denominadas como Páscoa. Assim o Senhor Jesus subiu a Jerusalém para participar do evento. Animais (bois, ovelhas e pombas) eram oferecidos no Templo, e convenientemente passaram a ser vendidos por ali mesmo. Além de vendedores, havia os cambistas que trocavam as moedas. Tudo isso trouxe uma mistura entre o santo e o pecaminoso. Na verdade uma tentativa de mistura, visto que estas coisas não se misturam jamais. Quando há este tipo de coisa tudo se torna impuro.
Ora, o Templo era do Senhor, ou seja, era santo. A festa, também, era do Senhor, assim, igualmente santa. Tanto os vendedores de animais, como os cambistas, e possivelmente os próprios líderes religiosos, estavam se aproveitando destas coisas santas para fazerem negócio, estavam procurando lucrar com o sagrado. A reação de Cristo diante disso foi de zelo, segunda as Escrituras. Para entendermos esta reação de Nosso senhor usarei uma ilustração semelhante a do Pr Paul Washer, usada em um contexto um pouco diferente, mas que nos ajudará: Imagine um homem casado que encontre vários homens abusando sexualmente de sua esposa. Será que tal homem olharia para este fato com indiferença? É lógico que não! Ele ficaria cheio de indignação contra aqueles malfeitores e os atacaria em defesa de sua esposa. Em outras palavras, este homem seria zeloso com sua esposa. Pois bem, este zelo é semelhante ao zelo de Cristo com relação as coisas de seu Pai. Quando Cristo viu todo aquele comércio dentro do Templo de se Pai, e em meio a festa de seu Pai, quando Ele viu a Honra de seu Pai ser atacada, imediatamente, em um zelo santo, fez um chicote de cordas e expulsou todos aqueles homens e animais do lugar, e derrubou o dinheiro dos cambistas, enfim, defendeu o que era santo ao Senhor. Como Cristo poderia ficar indiferente diante daqueles ladrões que roubavam dentro do Templo do Senhor? Neste ponto quero destacar duas coisas:
A – O Cordeiro de Deus fica indignado diante da tentativa de misturar o pecado com o que é santo: Com relação a isso vemos em nosso tempo pessoas usando o Nome de Deus, de Cristo, do Espírito Santo, usando o título de Igreja para fazerem negócio, para ganharem dinheiro. São os vendilhões do Templo, os cambistas de hoje. Estes vendem a fé, se aproveitam do Nome Santo da Trindade para lucrarem. Eles não se importam com Deus, e com o povo de Deus, mas apenas com seus próprios bolsos. Tais tipos de homens sempre existiram. Porém solenemente quero afirmar baseado neste texto, que o Cordeiro de Deus está indignado contra estes homens e em breve trará sobre eles o chicote de sua ira. Oh não brinque com Deus! Como você ousa desonrar o Nome do Todo Poderoso e ainda achar que Ele está ao seu lado? Leiamos o Salmo 2:
Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas. Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles. Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá. Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião. Proclamarei o decreto do SENHOR: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão. Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro. Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes da terra. Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor. Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira. Bem-aventurados todos os que nele se refugiam.
Que todos ao lerem essas palavras temam e tremam diante do Filho e não ousem desonrar seu Santo Nome.
B – Devemos seguir o zelo de Cristo e não nos tornarmos indiferentes: Será que ficaremos impassíveis diante dos vendilhões de nosso tempo? Será que veremos o Nome de Deus ser desonrado e ficaremos de braços cruzados? Poderemos ver um ataque frontal a Noiva de Cristo, a Igreja, por parte destes "estupradores espirituais", destes hereges gananciosos, para simplesmente voltamos as costas e ir embora? Não defenderíamos com zelo santo o Nome de Deus e sua amada Noiva? Haveremos de nos sentar com estes salteadores em nome de uma suposta "comunhão cristã"? Permitiremos que este "lobos vorazes" penetrem nas igrejas e ataquem o rebanho? Ou haveremos de zelosamente pregar a Escritura, denunciar os abusos, honrar a Deus, e proteger o rebanho? Que cada um reflita nestas questões! Mas a todos deixo estas palavras do Apóstolo Paulo:
"Vós bem sabeis como foi que me conduzi entre vós em todo o tempo, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, servindo ao Senhor com toda a humildade, lágrimas e provações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram, jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa, testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo. E, agora, constrangido em meu espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá, senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações. Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus. Agora, eu sei que todos vós, em cujo meio passei pregando o reino, não vereis mais o meu rosto. Portanto, eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos; porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus. Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue. Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um. Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados. De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes; vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo. Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber." (At 20:18-35).
Prosseguindo em nossa análise do texto devemos notar que a purificação do Templo foi mais um sinal que mostrava quem era Jesus. Observemos o seguinte texto:
"Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; de repente, virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o Anjo da Aliança, a quem vós desejais; eis que ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos. Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda? E quem poderá subsistir quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do ourives e como a potassa dos lavandeiros. Assentar-se-á como derretedor e purificador de prata; purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata; eles trarão ao SENHOR justas ofertas." (Ml 3:1-3).
Este texto deixa claro que uma das promessas em relação ao Messias é a de que Ele purificaria o Templo em sua vinda. Observemos este outro texto:
" Pois o zelo da tua casa me consumiu, e as injúrias dos que te ultrajam caem sobre mim." (Sl 69:9).
João nos diz em seu Evangelho que os discípulos de Cristo diante da purificação do Templo lembraram-se deste verso das Escrituras (Jo:2:17). Assim no Antigo Testamento havia promessa da purificação do Templo por parte do Messias. Dessa forma ao purificar o Templo durante a Páscoa, Jesus se revela publicamente como o Messias. Sabemos também que a partir dai se inicia uma oposição a Cristo por parte das autoridades religiosas e que finalmente Ele será morto. Talvez em relação a isso se refira o termo "consumir", e os discípulos podem ter temido a conseqüência do ato de Cristo. O fato é que temos aqui mais um sinal sobre a identidade de Cristo.

III – A INCREDULIDADE DOS JUDEUS E O NOVO TEMPLO (Jo 2:18-22):

Os judeus vão questionar a Jesus sobre os fatos. Trata-se das autoridades do Templo. Eles demonstram que não creram em Jesus, pois querem um sinal que prove sua autoridade. Porém um sinal já havia sido dado: O próprio ato da purificação já era um sinal, como vimos. Aqueles homens no entanto são incrédulos e não se submetem a Cristo, não se humilham diante Dele, não clamam por seu perdão por permitirem o comércio no Templo, mas arrogantemente pedem Dele um sinal. Isso é bem comum por parte dos incrédulos. Penso que é comparável a hoje quando pessoas não crêem nos sinais de Cristo nos Evangelhos preferindo se iludir com os falsos sinais de modernos "mestres". Estas pessoas, como aqueles judeus, pedem sinais, mas Cristo já deu os sinais registrados nos Evangelhos. O que estes pecadores devem fazer é olhar para aqueles antigos sinais e por Eles entenderem que Jesus é o Cristo, para que assim possam crer e encontrar a Salvação Nele.
Jesus não opera nenhum sinal que aqueles homens gostariam de ver. Mas dá eles um outro sinal: O anúncio do Novo Templo. Jesus diz que aqueles homens deveriam destruir o Templo , e que em três dias Ele o reconstruiria. Eles pensam que Ele se referia ao templo de pedra, mas João diz que Ele se referia ao seu corpo. Ora, no Antigo Testamento o Templo era a morada de Deus. Mas agora o corpo de Cristo é a sua morada. Jesus está dizendo que aqueles líderes judeus incrédulos o matariam, com sua permissão, eles procurariam destruir seu corpo, mas que Ele, por seu poder, iria ressuscitar. E devemos dizer mais: Nele a sua Igreja passa a ser o Templo de Deus, a morada do Espírito Santo. Leia estas palavras de Paulo:
"Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado." (I Co 3:16,17).
Assim, nas palavras de F. F. Bruce, existe a"substituição do templo material condenado, por um templo novo e espiritual" (Página 76 de seu comentário). Este templo naturalmente é a Igreja. Onde está o corpo de Cristo reunido, onde está uma Igreja de Cristo, ali está Deus, ali está seu Espírito. Devemos ainda afirmar, como bem nos lembra Hendriksen na página 170 de seu comentário, que todas as práticas religiosas ligadas ao templo material também são substituídas por um novo culto em espírito e verdade. Dessa a forma a questão vai do material para o espiritual. A luz de tudo isso creio que é oportuno lembrar que todas as vezes que o cristianismo é verdadeiro ele manifesta esta ênfase na adoração em espírito e verdade, e que ao contrário disso, quando o cristianismo é falso, ele se apega a templos e a toda a questão material. Não estamos vendo em nosso tempo exatamente uma manifestação desse tipo de falso cristianismo? Não estamos vendo um apego a templos, como se estes fossem morada de Deus? Não estamos assistindo o surgimento cada vez maior de "cultos" cheios de rituais, onde o que importa é a performance material, as luzes, as cores, as danças, as coreografias, as sensações, em vez do culto espiritual simples centrado em Deus e orientado pela Escritura, uma adoração de fato a Ele? Que reflitamos sobre isso!
Os judeus não entenderam o que Jesus dizia, por isso trataram suas palavras com desdém. Os próprios discípulos só o entenderam depois de sua ressurreição. Então eles creram no que o Antigo Testamento dizia sobre Cristo e nas próprias palavras Dele. Aqui vemos que a Escrituras se constituem em uma perfeita unidade, da qual Cristo é a coluna central. Só a compreendemos quando acreditamos neste fato. É uma pena observarmos que muitos hoje esquecem que Cristo é o centro da Bíblia. Estes tais, para seu próprio mal, tomam a Bíblia e a torcem para que ela se torne desculpa de seus caprichos egoístas. Mas a Palavra de Deus não se prestará a isso. Ela continua apontando para Cristo, de forma que todo o homem que teve contato com ela não poderá dizer que não achou Cristo em suas páginas. Na verdade tal homem, se assim pensa, é um incrédulo, pois é sua incredulidade que o impede de ver a clara revelação de Cristo nas Escrituras.

IV – CONCLUSÃO:

Jesus é o messias. Aqui temos mais uma prova disso: A purificação do Templo. Esta purificação nos ensina que jamais Ele permitirá a desonra de tudo o que pertence a seu Pai. Também fica claro que Nele se inicia o Novo Templo. Seu corpo é este Templo. E por Ele a Igreja se torna a morada de Deus o Novo Templo Espiritual. O corpo dos crentes é a morada do Altíssimo, são aqueles que o adoram em espírito e verdade!

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Comentários

  1. Também creio que,segundo Hendriksen, a fala de Jesus "O zelo da tua casa me consumirá", ali Jesus "assinou a sentença de morte" dele, o que o levou a crucificaçao, melhor dizendo. Apesar de Calvino ter interpretado de outra forma, mas a de Hendriksen é a mais provavel. Belo estudo!

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    1. Muito obrigado pela sua contribuição e apoio, prezado irmão Héber. Deus continue lhe abençoando na Verdade!

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