Exposição do Evangelho de João: A natureza humana despreza a Verdade!

Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres? Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. Bem sei que sois descendência de Abraão; contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não está em vós. Eu falo das coisas que vi junto de meu Pai; vós, porém, fazeis o que vistes em vosso pai. Então, lhe responderam: Nosso pai é Abraão. Disse-lhes Jesus: Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão. Mas agora procurais matar-me, a mim que vos tenho falado a verdade que ouvi de Deus; assim não procedeu Abraão. Vós fazeis as obras de vosso pai. Disseram-lhe eles: Nós não somos bastardos; temos um pai, que é Deus. Replicou-lhes Jesus: Se Deus fosse, de fato, vosso pai, certamente, me havíeis de amar; porque eu vim de Deus e aqui estou; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou. Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra. Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. Mas, porque eu digo a verdade, não me credes. Quem dentre vós me convence de pecado? Se vos digo a verdade, por que razão não me credes? Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso, não me dais ouvidos, porque não sois de Deus.”. (Jo 8:31-47).

I – INTRODUÇÃO:

Diga a Verdade de Cristo, e os homens em sua natureza depravada a desprezarão. Diga a mentira, e muitos destes mesmos homens lhe ouvirão. Esta é a triste realidade da natureza humana apresentada neste texto. Os homens não querem a Verdade, mas sim a mentira. Tal fato é trágico e devemos meditar sobre ele aplicando-o a nossa vida. A grande questão é: Como temos reagido diante da Verdade de Cristo?

II – OS CRENTES SÃO OS VERDADEIROS DISCÍPULOS (Jo 8:30-32).

Quando lemos o texto anterior ao verso trinta, notamos, como é constante neste Evangelho, uma forte oposição dos ouvintes de Cristo ao seu ensino. Porém, repentinamente este verso nos apresenta a notícia, que dentre estes, muitos creram Nele, após ouvir suas palavras. Ao continuarmos a leitura, observamos que quando Cristo prossegue o diálogo com estes “crentes” a oposição volta, e até de maneira mais forte, pois o chamam de samaritano, afirmam que tem demônio (48), e afinal querem apedrejá-lo (59). A luz deste contexto, não podemos afirmar que o verso trinta trata de crentes genuínos, mas apenas de pessoas que temporariamente manifestaram uma “crença” em Cristo por ficarem empolgadas com suas palavras. Ora, existe uma infinita diferença entre a fé na Palavra de Cristo, e uma mera admiração por suas palavras. Creio que o último caso é o do verso trinta quando afirma que “muitos creram”.

Já vimos neste Evangelho, no caso dos “crentes” de Jo 2:23-25, e do próprio Nicodemos, que inicia a conversa com Cristo confessando “saber”, sendo imediatamente alertado pelo Senhor sobre a necessidade do Novo Nascimento (Jo 3:1-3), que nem todo o “crer” é um “crer” para a salvação. Portanto, entendo que estes homens do verso trinta não são crentes de fato, mas apenas homens empolgados com o ensino de Cristo. Por isso o Senhor logo lhes apresenta um teste para a fé. É o teste do discipulado. Os verdadeiros crentes são também verdadeiros discípulos, e um verdadeiro discípulo permanece na Palavra de Cristo, ou seja, toda sua vida é baseada no ensino de Cristo. Dessa forma o discípulo conhece a Verdade, que é a própria revelação que Deus trouxe em Cristo (Jo 14:6), e conhecendo a Verdade, é, então, liberto do pecado em seu poder de engano.

Assim, fica evidente que a verdadeira fé é provada por um discipulado genuíno que nada mais é que seguir a Cristo, o Mestre, em sua Palavra. Estes homens não eram crentes, pois logo mostram que não respeitam a Palavra de Cristo, contradizendo-a o tempo todo. Devemos refletir nisso: Nossa profissão de fé nada vale se não for provada por uma submissão as Escrituras Sagradas como aquela que contem toda a direção para nossas vidas (II Tm 3:16,17). Uma “crença” dissociada do verdadeiro discipulado é demonstração clara de que aquele que a professa não segue realmente a Cristo. Devemos aplicar esta verdade seriamente a nossa vida: Provamos nossa fé por um discipulado verdadeiro?

III – O GRANDE PROBLEMA: A ESCRAVIDÃO ESPIRITUAL AO PECADO (Jo 8:33-36).

Logo, logo, estes homens mostra sua falsa fé ao não aceitarem a afirmação de Cristo de que são escravos. Dizem que nunca foram escravos. Naturalmente se referem a “superioridade” deles diante de outros povos por terem a Lei de Deus e suas promessas como povo da aliança, pois afinal tinham sim sido escravos. Mas o Senhor mostra que falava de uma escravidão espiritual ao pecado. De fato esta é a mais profunda e terrível escravidão. Podemos entendê-la como um domínio do pecado no coração humano apegando-o a mentira espiritual, a ilusão pecaminosa, visto que Cristo diz que a Verdade liberta.

Cristo mostra que qualquer privilégio de um escravo é passageiro, e só de um filho é constante. Este era o caso daqueles homens incrédulos que possuíam alguns privilégios por serem descendentes naturais de Abraão, mas ainda assim não passavam de escravos, visto que não criam em Cristo, o Filho de Deus que liberta do pecado. Assim, existe um poder de mentira que está no coração dos homens (Sl 36:1-3), que os ilude sobre quem seja Deus (Sl 50:16-23), os ilude sobre a imundície que é o pecado (Rm 1:28-32), os ilude sobre a morte que o pecado trará (Sl 36:2), e os amarra aos prazeres transitórios do pecado (Pv 7:18-27; Hb 11:24,25). Esta é uma prisão que só o Filho destrói.

Amigo leitor, a Palavra de Deus afirma que se você não foi liberto por Cristo esta é a escravidão em que se encontra. É importante notar que aqueles homens não reconheciam esta escravidão. Ora, este era o efeito da própria escravidão, pois o engano do pecado é que escraviza. As pessoas não reconhecem que servem a algo imundo como o pecado, e até se orgulham do pecado. Assim, elas abraçam a morte crendo que abraçam a vida, pensam que agradam a Deus, sendo que se opõem a Ele, crêem que se encontram bem com Deus, quando ainda estão debaixo de sua ira, não pensam no inferno quando logo, logo, e talvez ainda hoje, estarão nele. Leitor, esta é a sua situação se ainda Cristo não o libertou. Que Deus o ilumine por esta leitura, e o liberte pela Verdade!

IV – A PATERNIDADE ESPIRITUAL (Jo 8:37-47).

O Senhor prossegue mostrando que o problema básico deles era a paternidade espiritual. Estes incrédulos rejeitavam a Palavra de Cristo porque Deus não era o Pai deles, mas sim o diabo, o pai da mentira. Eles agiam de acordo com o que viram em seu pai, enquanto que Cristo falava do que vira no seu Pai, a Primeira Pessoa da Trindade, o Verdadeiro (Jo 8:26). Assim, há uma completa incompatibilidade, pois a mentira não aceita a Verdade. Por isso que a Palavra de Cristo, que é a Verdade, não acha lugar neles. Dizem ser filhos de Abraão, mas não o são, pois Abraão recebeu e obedeceu a Palavra (Gn 12:1-4), recebeu a Deus e seus enviados (Gn 14:18-20; 18:1-33), e se alegrou com o Filho de Deus (Jo 8:56). Abraão recebeu a Verdade, era um crente de fato, era um genuíno discípulo de Cristo. Mas diferentemente de Abraão aqueles homens rejeitaram a Cristo e queriam matá-lo (Jo 8:40). Não e não, eles não eram descendentes de Abraão, mas ao contrário, tinham outro pai: o diabo. Os verdadeiros descendentes de Abraão eram os crentes em Cristo.

Também ousam afirmar que Deus era o Pai deles. Mas Cristo mostra que não. Se este fosse o caso, eles receberiam a Cristo, pois que veio de Deus. Cristo mostra que o pai deles era o diabo, pois agiam demonstrando que queria satisfazer o desejo dele. Ora, ele é homicida, trouxe a morte à humanidade, e para isso usou da mentira (Gn 2, 3). A mentira é o instrumento do diabo para matar. Ele ama a mentira e nunca diz a verdade, ao contrário de Deus que é verdadeiro e sempre diz a verdade. Assim aqueles homens eram filhos do diabo porque correspondiam a ele, pois queriam matar a Cristo e rejeitavam a Verdade amando a mentira. Eram como seu pai, o diabo. Por isso não ouviam a Cristo, que falava a Verdade e não possuía pecado. Mas, a mentira eles ouvem porque a mentira corresponde ao coração deles, que ama a mentira, como o diabo. A Verdade sempre será rejeitada pelos filhos do diabo, pois não corresponde ao que querem: a mentira. Mas quem é de Deus ouve a Palavra de Deus, pois quer a Verdade quer a Cristo. Tal pessoa ama o que Deus ama, ama a Deus, ama a Verdade, ama a Cristo!

Oh, como tudo isso é importante! Permita-me, prezado leitor, fazer-lhe esta pergunta. Sei que a pergunta é ofensiva, mas é inescapável: Você é discípulo de Cristo ou um filho do diabo? Se você ama a Cristo e crê Nele, se você segue sua Palavra, então esta livre da mentira do pecado, possui verdadeira fé, e é um genuíno discípulo de Cristo. Mas se você rejeita sua Palavra, e não crê Nele, se você rejeita a Cristo, a Verdade, e ama a mentira, então é um filho do diabo. Que Deus o ilumine sobre a questão, que Deus o regenere, que o traga a Cristo, que Deus seja gracioso com você!

V – CONCLUSÃO:

Os verdadeiros crentes seguem a Palavra de Cristo, são verdadeiros discípulos, e estão livres da mentira do pecado, pois são de Deus e querem sua Verdade. Já os incrédulos querem a mentira e rejeitam a Verdade, pois são filhos do diabo e agem como o pai deles. Que Deus seja gracioso com todos nós, trazendo-nos ao Filho!

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